A Bíblia diz que a inveja corrói como um câncer. É um mal inconfessável.
A inveja foi um dos sete pecados capitais instituídos pela Igreja Católica no século XII e teve repercussões significativas na humanidade. Um a um, os pecados foram sendo revistos. Uns poucos permanecem atuais, a maioria, lentamente vem sendo substituída por outros, igualmente discutíveis. A inveja é, justamente, um dos que permanecem mais atuais. Pesquisa realizada pelo Ibope em todo o país confirma a atualidade da inveja. Em um universo de dois mil entrevistados, 73% a classificaram como o pecado mais conhecido entre os sete capitais.
A palavra pecado, por si só é investida de um conceito moral de certo e errado.
Certamente não é com esse intuito, de juízo de valor, que aqui se propõe pensar o tema da inveja. O objetivo é analisar o quanto esse sentimento pode levar à falta de esforço no sentido de lutar pela própria vida, produzindo sofrimentos e infelicidade.
É natural que o ser humano possua uma vitalidade psíquica e uma energia orgânica que nos colocam em movimento. São considerados os verdadeiros fatores de sobrevivência do homem na terra. Observa-se na atualidade que cada vez mais pessoas desejam conseguir tudo o que querem sem se empenharem, tudo tem que ser fácil e espontâneo.
Em muitos casos se encontram paralisadas frente à vida apresentando o que a psicanalista Suad Haddad denomina de “ódio ao esforço”. Este sintoma se refere à dificuldade do sujeito de empenhar-se em alguma atividade importante, seja ela física ou psíquica, inibindo o desempenho espontâneo que nos mobiliza a crescer. Sua principal característica é não ter que fazer força para conquistar o que deseja. Adotam um funcionamento onipotente, sentem que têm direito a tudo. São pessoas que não entendem porque tem que passar por dificuldades, seja enfrentar uma fila , estudar para uma prova, fazer um regime, desenvolver uma tese ou um trabalho, tudo pode se conseguir em cima da hora, magicamente. Qualquer esforço é odiado e desprezado. Essa incapacidade de se empenhar acarreta inevitavelmente falta de firmeza, de decisão, de entusiasmo e de autoconfiança. São pessoas queixosas e insatisfeitas, que se sentem lesadas diante de qualquer dificuldade, alimentando dentro de si um sentimento de injustiça e hostilidade.
O ódio ao esforço é uma defesa da pessoa frente ao surgimento da inveja.
Sendo um sentimento que faz parte da natureza humana a inveja tem seu lugar no desenvolvimento emocional e afetivo, não possuindo necessariamente aspectos negativos ou destrutivos. Ela mobiliza o sujeito a crescer e ir ao encontro de seus desejos. O sentimento de inveja é danoso quando incapacita o sujeito para apropriar-se de sua vida. O invejoso considera aqueles que conseguem fazer e são bem-sucedidos, como pessoas injustamente privilegiadas ou beneficiadas de alguma forma. Esta é uma maneira de negar a capacidade do outro, de negar o trabalho imenso que cada tarefa bem realizada exige.
Tal forma de pensar, defensiva, que destitui o outro de qualidades para não ter que invejá-lo distorce a capacidade de percepção da pessoa, prejudicando a construção do mundo interno e a apreciação do mundo externo.
Não é nada fácil para o ser humano aceitar as suas limitações, como por exemplo, os fatos dolorosos da vida, as perdas, a passagem do tempo e a certeza da morte. Nesse sentido, muitas vezes, o mecanismo da negação da realidade se faz necessária para não sentirmos inveja.
A dificuldade em suportar as frustrações leva o indivíduo a odiar o esforço exigido para superá-las. Torna-se enriquecedor a pessoa reconhecer que depende dela própria realizar o trabalho necessário para obter suas conquistas. Caso contrário ela permanecerá refém de um sentimento de que é vítima e de incapacidade diante das exigências da vida. O outro é sempre responsável pelo seu conforto ou desconforto. A pessoa se mantém em uma passividade hostil que encobre uma vivência interior destrutiva da qual ela é a mais importante vítima.
Vale lembrar que inveja vem do latim invidia, que por sua vez vem do verbo videre, que significa olhar. O invejoso é o olhar que ele tem. Um olhar que idealiza aquilo que é do outro e, portanto o inveja.
A percepção do dano interno decorrente dessa idealização fica afastada da consciência. O processo de reconhecer a existência do sentimento repetitivo de inveja é a forma de ir em direção de cuidar a própria vida.
Para lidar com esse sentimento humano não é necessário negá-lo ou atacá-lo, mas sim entrar em contato, entender e conhecer o seu significado. Aceitar o limite e as dificuldades da vida contribui para viver de forma mais prazerosa e produtiva.
Adriana Petter e Jamile Estacia – Psicanalistas
. Porque Psicossoma – Consultoria e Intervenções Psicanalíticas
Agende o horário para seu atendimento.
Conheças as terapias oferecidas.
Conheça minha formação e trabalho.